Aprenda a preparar o drinque Tamauó? Tómaqui!, do bartender Roberto Merlin

Reza a lenda que o pequi é fruto da dor da índia Tainá-Racan que teve seu filho de cabelos dourados, Uadi, sequestrado pela divindade Cananxuié em forma de uma arara-vermelha no mesmo dia que partiu para a guerra seu marido Maluá.

Após três dias de choro Tainá, o deus dos animais, montes, matas, águas e flores surgiu novamente e decretou que das lágrimas da índia nasceria uma árvore copada de flores cheirosas e frutos de casca verde e dourados por dentro como os cabelos do menino. De aroma e sabor inesquecíveis, a semente no entanto seria repleta de espinhos, como a dor do coração da mãe. A esse fruto deu-se o nome de Tamauó.

A história termina com o retorno do guerreiro Maluá durante a florada, debaixo da copa do tamauó o casal fez amor e a cada nova chegada das flores, Tainá era agraciada com mais uma criança. Por isso até hoje o pequi, nome dado a essa fruta do Cerrado pelos brancos, é considerado afrodisíaco e associado a fertilidade.Apaixonado pelo aroma e sabor do pequi, Roberto Merlin criou seu Tamauó? Tómaqui! No drinque a verbena, com seu perfume intenso e cítrico, representa a mata e faz com que a inocência e a sensibilidade se aflorem. O licor de pequi e a cachaça trazem a sensação de aquecimento pelo corpo, quando a paixão bate com força. A água gaseificada representa as lágrimas de Tainá-Racan que tanto chorou após perder Uadi. Por fim, o bitter aromático representa a cultura ancestral, o sábio conselho do ancião que aconselhou Maluá a seguir em batalha mesmo após o desaparecimento do filho..

O bartender Roberto Carvalho ganhou o apelido de “Merlin” na terceira edição do evento “Mentes Brilhantes”. Natural do município de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, Merlin cresceu aos pés da Serra da Mantiqueira e vem da infância sua forte ligação com a natureza e sua paixão pelas riquezas nativas da terra.

Mudou-se para a capital paulista em busca de conhecimento e profissionalização no ramo da hospitalidade e começou sua trajetória de barman no Cateto de Pinheiros e elaborou a primeira carta do Oak. Atualmente é consultor de mixologia e toca o projeto “Drinks nos Trinks” que busca valorizar a coquetelaria capial, com ingredientes regionais, cachaça de alambique, técnicas antigas e o que for necessário na busca por sabores únicos da roça.

O drinque Tamauó? Tómaqui! com sua cor dourada, representa o valor do pequi. O aroma da fruta se destaca pelo herbal cítrico e intrigante da verbena. O resultado tem diversas camadas de sabores com notas que transitam entre o herbal, vegetal, adocicado, cítrico e ligeiramente amargo. Ao final pequi rouba a cena com sua potência. A receita não está disponível em nenhum bar, mas quem quiser replicar em casa ou no próprio balcão basta seguir a receita, deste que é mais um dos #365DrinquesDoBrasil.

APRENDA A RECEITA

Tamauó? Tómaqui!

15 ml de cachaça de alambique (envelhecida preferencialmente em bálsamo)
30 ml de cordial de laranja com pau tenente e cardamomo
5 gotas de Zulu Bitters Especial 10 anos do Mixology News
10 ml tintura de verbena
30 ml água carbonatada
40 ml licor de pequi

Resfrie um copo tipo collins e corte um retângulo de gelo que acomode bem nele. Em uma coqueteleira com gelo, adicione o licor, a cachaça, a tintura e o cordial. Bata com vigor por alguns instantes. no copo com gelão adicione a água carbonatada e através de uma coagem simples transfira o conteúdo da coqueteleira. Misture suavemente com a bailarina e finalize com 5 gotas do zulu bitters.

Guarneça com lascas de pequi (cuidado para não atingir os espinhos) e um farto bouquet de verbena percorrido ao redor do copo para impregnar seus icônicos óleos essenciais.

Receita do cordial de laranja com pau tenente e cardamomo

533 ml de água mineral
233 ml de suco de laranja
333 g de açúcar demerara
3 g de pau tenente (em lascas)
3 laranjas bahia (descascadas finamente)
7 g de ácido cítrico (opcional)
3 sementes de cardamomo descascadas e trituradas

Junte as cascas das laranjas e o açúcar demerara e deixe descansar para que o açúcar absorva os óleos essenciais da fruta. Enquanto isso ferva a água e separe os demais ingredientes. Despeje então a água fervente na mistura de cascas e açúcar e cozinhe em fogo baixo por cerca de 7 minutos. Desligue o fogo e adicione o ácido cítrico (caso opte por usá-lo), o suco de laranja, o cardamomo e as lascas de pau tenente. Misture bem e deixe abafado por cerca de três horas. Por fim faça uma coagem fina para evitar sedimentos indesejáveis.

Receita da Tintura de Verbena

233 ml de álcool de cereais (ou vodka)
66 folhas frescas de verbena (aproximadamente)

Estapeie metade das folhas de verbena com as “costas” da mão e deposite em um recipiente com álcool de cereais. Mantenha as folhas submersas para obter uma boa extração. Após cerca de 8 horas a frio, remova as folhas e adicione a outra metade das folhas frescas por mais 8 horas. Faça uma coagem fina e pronto.

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